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Ritual

Este poema costuma perder hora e compromissos desiludido Só pensa em te trazer de volta Quando sente saudade põe teu perfume repete o teu ritual pós-banho Lê a arquitetura dos teus hábitos pela manhã Revive a lentidão daquelas tardes quando tua boca e dentes articulavam as palavras do mundo

Mon amour, ma chérie

Tenho um mar de amor à altura dos olhos Sem escolher a hora eu mais que molho as mãos toco a partícula, o átomo Beijo as veias abaixo epiderme Sinto o vento antes do sopro Tenho um mar de amor à altura dos olhos à altura dos sonhos.

Previsões

    Acho que meu coração já   te esperava   quando era um livro de fotografias   que costumava alegrar os dias   de chuva no fim do verão   Talvez hoje eu peça o beijo antes do café   e guarde para sempre a letargia dessa sensação   nos cubinhos de açúcar...

O que há de errado nesse lugar

As raízes da minha terra desenharam em mim a ancestralidade dos meus antepassados o meu cabelo preto, a estatura do meu corpo os traços incomuns do meu rosto Tudo se harmoniza, tudo está completo Minha rima não nasceu em outro lugar Não tem os cabelos claros ou a pele branca Minha poesia não fala dos prédios da avenida paulista O meu verso não pisa nas areias de copacabana E ainda que fale, ainda que pise A poesia dos meus antepassados não será vendida em livrarias nem receberá prêmios importantes Mas se eu não escrever como vão saber o gosto que tem o roxo em meus lábios?

Viva-voz

  O que quero é contar um sonho de trilha sonora e tudo Mas só o que consigo dizer é que Dalva estava nele de alma e voz vindas de um radinho de pilha mal sintonizado Coisas que não se veem em sonhos mas que deduzimos pelo som abafado e pelas imagens em P&B Guardadas pós-sonho “ Que será da minha vida Sem o teu amor Da minha boca sem Os beijos teus Da minha alma sem o teu calor... ” Prendi o sonho no poema Como quem prende o dedo ao fechar com pressa uma porta Ou uma gaveta de armário...